«Tal como o nome o indica, autobiografia é o relato oral ou escrito que alguém faz da sua própria vida. É um género literário em prosa, que consiste na narração da experiência vivencial do indivíduo, levada a cabo por ele próprio.» in Wikipédia
AUTOBIOGRAFIA
Capítulo I
Maria da Conceição |
Nasci no lugar dos Palheiros, freguesia da Penajóia, concelho de Lamego, no dia 23 de Outubro de 1930, numa linda quinta-feira, disse a minha mãe.
A Minha infância foi igual à dos meninos do meu tempo, mas muito diferente de hoje.
Eu nunca fui à escola porque tinha de ajudar a minha mãe a acartar areia do rio Douro para cima.
Eu conto:
1. A vida era difícil, em minha casa faltava muitas vezes comida para toda a minha família e todos tínhamos que trabalhar. Quando não havia trabalho, o meu pai e a minha mãe iam pedir pelas portas. Eu também fui muitas vezes com meu pai pedir, mesmo para muito longe. Lembro-me de ir pedir para a Campeã, vila Real, passávamos o rio Douro junto às Caldas de Moledo, subíamos a serra. Fui pedir até Sanfins do Douro, Pinhão, Alijó. Davam-nos sopa e pão para comer, pedacinhos de azeite que o meu pai ia metendo numa lata que trazia a tiracolo e dinheiro. Deixavam-nos dormir nos palheiros em cima da palha e continuávamos no dia seguinte. Apanhei muito frio e passei muita fome. Para mim era muito triste andar muitos dias fora de casa, sozinha pelos montes com o meu pai. Ficava muito cansada.
Muitas vezes davam-me broa e eu apesar de ter fome, ía esconde-la em minha casa, no colchão, para dar à minha mãe quando chegava à noite cansada e com fome. Algumas vezes ouvia-a a chorar por não ter de comer nem para me dar a mim e aos meus irmãos.
Comecei a ir com ele logo que fiz cinco anos.
2. Eu nunca fui à escola mas aprendi os números e as letras, porque pedia ajuda aos meninos que vinham da escola. Escrevia no chão com um pau porque eu não tinha aonde escrever. Muitas vezes tinha que os ameaçar: “ou me ensinais ou rasgo-vos o caderno.”
Não fui para a escola porque tinha que ajudar os meus pais a trabalhar ou a pedir.
Só a minha irmã mais nova foi para a escola.
3. Desde os meus oito anos que ajudava os meus pais, a pedir ou a trabalhar em casa ou nos vizinhos. Fazia os recados a uma vizinha e esta dava-me comida que eu levava para casa, para os meus irmãos. Apesar de estar com fome dizia-lhe que ia comer mais logo. Lembro-me de andar a transportar areia, em sacos de lona, desde o rio até à Adega da Penajóia, para uma casa do Montenegro. Muito me custava, pois o peso era muito para mim que era uma franzina, com 8 anos e, era muito longe. Muitas vezes quando pousava o saco para descansar, ia ao saco e tirava um punhado, ou dois de areia e deitava para a vinha para ser mais leve. Lembro-me, aos 11 anos, que andava a acartar cabazes de uvas, às costas, desde a Penajóia até ao rio, mais de 5 quilómetros, atravessar o rio de barco, e continuar a subir para a estação das Caldas do Moledo.
4. Nos meus tempos de criança fazia muitos jogos: jogava a bola, o pião, o arco, o pateiro, o botão, e a macaca, e o caracol e as escondidas. Não havia televisão nem rádio, e por isso, os jogos eram todos na rua. Quando escurecia comíamos e íamos para a cama.
5. Foi muito difícil a minha vida, em casa dos meus pais, até aos 13 anos, com muito trabalho e muita necessidade.
Os últimos dois ou três anos, na Penajóia, eu trabalhava para uma senhora de lá. Fazia tudo o que ela me mandava: ía para a quinta, arrancar erva, sachar, apanhar fruta e as vides, levava o almoço para outras mulheres que estivessem a trabalhar na quinta. Estendia-se uma toalha no chão e as pessoas sentavam-se no chão, à volta.
Continua.
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