quinta-feira, 31 de março de 2011

História antiga


Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu,
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenino
Que o vivo sol da vida acarinhou;
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus:
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga, Poesia Completa, Círculo de Leitores
Nuno Costa, em 31/3/2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

Autobiografia (continuação)

«Tal como o nome o indica, autobiografia é o relato oral ou escrito que alguém faz da sua própria vida. É um género literário em prosa, que consiste na narração da experiência vivencial do indivíduo, levada a cabo por ele próprio.» in Wikipédia

AUTOBIOGRAFIA
Capítulo II
1-       Quando eu tinha 13 anos, o senhor padre Ilídio Fernandes, pároco da Penajóia, que depois foi Monsenhor, teve pena de mim e conseguiu que as freiras do hospital me dessem trabalho. Fui trabalhar para a cozinha do hospital de Lamego. Passado pouco tempo fui para as enfermarias para ajudar a fazer limpezas, dar de comer aos doentes, limpá-los, etc.
Não me importava nada de fazer as limpezas. O que não gostava nada era de ajudar a levar os mortos para a morgue, e ajudar a transportar os doentes da urgência para as enfermarias. Não havia rampas e tínhamos de os levar nas mãos em macas.
As empregadas gostavam de mim, como eu ainda era pequena, sentavam-me em cima de um cobertor e puxavam-me pelo chão para puxar o lustro, até ficar a brilhar.
Nessa altura, quem mandava no hospital eram as freiras, ainda me lembro: da madre superiora, Fidalgo, a irmã Aida, a irmã Bernardina, a irmã Corações, a irmã Bebiana, a irmã Maria José, a irmã Glória, a irmã Irmânia, etc.
As freiras, obrigavam-me a ir à missa e ao terço.

2. Passados dois anos, possivelmente por influências das freiras, fui para o Porto para também eu me tornar freira. Não foi possível, porque nem eu consegui dinheiro para contribuir para a Congregação e, a madre superiora Fidalgo também não estava de acordo pois queria que eu ficasse sempre a acompanhá-la.
Estive 8 anos a trabalhar na cozinha, na casa de Saúde da Boavista, até que a madre Fidalgo foi-me lá buscar para ir com ela para o hospital de Celorico de Basto

3. Estive quase 15 anos a trabalhar no hospital de Celorico de Bastos. Fazia de tudo o que me mandavam: fazia limpezas, ia buscar comida para os animais, (porcos, ovelhas, galinhas e coelhos) que havia na quinta do hospital, esfregava os chãos dos corredores e das enfermarias.
Tinha uma vida mais dura do que no Porto.

4.        Até que a madre Fidalgo adoeceu e foi para casa dela, em Freixiel, Concelho de Vila Flor.
Eu tive que a acompanhar, a mando dela. Tratava dela e da casa. Fazia toda a lide da casa: cozinhava, limpava, arrumava os quartos, lavava a roupa e passava a ferro.
Era uma vida calma e fiz lá muitas amigas que ainda hoje conservo: D Maria Olímpia, Francisco Fidalgo, a Fernanda, a Olivinha, o Armando Fidalgo e Maria Avelina.
Estive em Freixiel cerca de uma dúzia de anos. Só saí de lá quando adoeci. Vim-me tratar para o Hospital de Lamego. Fui operada duas vezes e fiquei cá de vez.

5.        Quando já estava curada, as freiras disseram-me para eu ficar cá a trabalhar. Acabei por ficar de vez até me reformar, aos 68 anos.
O meu trabalho era tratar os doentes e fazer a limpeza dos quartos particulares e acompanhar os doentes: lavava-os, dava-lhes de comer e fazia-lhes companhia.
Mais tarde passei para a pediatria, onde fiquei até me reformar, aos 69 anos.  

terça-feira, 29 de março de 2011

Bairro Pitoresco

O Bairro da Ponte
 O Bairro da Ponte é muito antigo. É um bairro muito feliz e festeiro. Comemoram-se os santos populares, com matança do porco, vinho e cerveja.
A Festa do Senhor Aflitos, é conhecida pela festa do meio quilo, dos moleiros (dizem os antigos que houve uma cheia no rio, e os moleiros pediram que os salvassem, por isso se diz que é dos moleiros e do Senhor dos Aflitos). Antigamente havia muitos moleiros no Bairro da Ponte.  
A Festa da Senhora dos Meninos, é em Setembro. Faz-se uma procissão onde vai o Sº Lázaro a mandar. No último dia da festa, faz-se a romaria até ao Senhor da Pedra, com o povo a bater nos caldeiros.
A Festa de São Lázaro, em Abril, é famosa pelo “pito” e a “rosca”. Na brincadeira o rapaz diz para a rapariga: “Olha dá-me o pito que eu dou-te a rosca”. A rosca é um bolo pequeno em forma de arco e o pito é um bolo redondo pequeno com um ovo de lado.
O Bairro da Ponte também é conhecido pelas suas biscoiteiras, que fazem o famoso «biscoito Teixeira». Também ainda há ferreiros, que afiam sacholas, enxadas e outras ferramentas; muitos sapateiros que consertam o calçado.
Como Bairro pitoresco que é existem muitas alcunhas: o pentaleão”, “o das merendas”, “o não sai do café”, “o vota pra estrada”, “os metranos”, “os ranhões”, “o albardeiro”, “o ferreiro”, “a biscoiteira”, “a bigodeira”, “o mata porcos”, “o picaré”, “o rei dos americanos”, “o alfaiate”, “o marreta”, “a piteira”, etc.
«São Lázaro, ramos, Páscoa estamos.»
Trabalho de João, em 29/03/2011

Este rei que eu escolhi

                                    
              A multidão não ouvia muito bem todas as palavras do Mestre, mas sabê-lo vivo e são era, na altura, quanto lhe bastava. Sabê-lo salvo das mãos dos homens de Leonor Teles era, para toda a gente, o essencial.
              - Povo honrado desta cidade de Lisboa! – gritava o Mestre, da janela do Paço.
- Acalmai vossos temores que a minha hora ainda não chegou! Estou vivo, amigos, e o conde de Andeiro é morto!
              A gritaria foi então enorme. Homens e mulheres erguiam bem alto varapaus e escadas, molhos de lenha e carqueja, pedras e madeira, tudo lhes servindo para vitoriarem o mestre.
              - Como sabeis, a rainha D. Leonor…
              O povo interrompeu de imediato aos gritos de «morra!», «fim à traidora!», «fora com a barregã!». Mas o Mestre ergueu os braços pedindo silêncio e um pouco mais de paciência.
              - Povo desta cidade!  D. Leonor foi mulher de meu irmão e vosso rei D. Fernando, de saudosa memória. D. Leonor é neste momento; rainha regente deste reino, que assim o mandam as leis. Vós sois gente honrada, e gente honrada não pede a morte de ninguém…
              - Só se não calhar… - bichanou entredentes um homem com cara e varapau de poucos amigos, mesmo junto de Mafalda, que até se encolheu só de vê-lo. Mas, impossível, o Mestre continuava, do alto da janela: - … gente honrada só pede que a governem com leis justas, e com gente sua. D. Leonor Teles está no lugar onde deve estar…
              - Até ver… - tornou o mesmo homem, e de novo Mafalda se encolheu.
              - … e nós viemos aqui apenas para a fazer entrar na razão. Para lhe fazermos ver a loucura de entregar este reino a sua filha Beatriz, casada com um rei estrangeiro. Pois não se está mesmo a ver que, uma vez chegada a maioridade de D. Beatriz e terminada a regência de D. Leonor, o rei de Castela, através de sua mulher se tornaria rei de Portugal?!.
             Novamente um clamor de «morras» se ergueu daquele povo que, apesar do frio de Dezembro, não arredava pé.
             - Torno a dizer-vos, honrados cidadãos de Lisboa: não queremos que ninguém morra, queremos todos nos seus devidos lugares – os Castelhanos em Castela, os Portugueses em Portugal!

1- De que época de História de Portugal fala o texto?
R: A revolução de 1383.

2- Quem são as personagens do texto?
R: As personagens deste texto são o Mestre, a rainha D. Leonor, rei D. Fernando, a Mafalda e a rainha D. Beatriz.

3- Onde se passa a acção deste texto?
R: A acção deste texto passa-se em Lisboa.

4- Quem é o Mestre de que fala o texto?
R: É o Mestre de Avis.

5- O que quer o Mestre que D. Leonor Teles entenda da vontade do povo?
R: Não entregue o reino a sua filha Beatriz.
                
6- Quantos parágrafos tem o texto?
R. São 13 parágrafos.

7- Amplia a seguinte frase: O Mestre falou.
R: O Mestre falou ao povo da janela do Paço.

8- Copia do texto uma frase:
Interrogativa – Pois não se está mesmo a ver que, o rei de Castela, através de sua mulher se tornaria rei de Portugal?!.
Declarativa – Acalmai vossos temores que a minha hora ainda não chegou!

9- Sublinha os verbos das seguintes frases.
            A multidão não ouvia muito bem.
            Acalmai vossos temores.
            Não queremos que ninguém morra.

10- Considera o texto e explica o significado de:
            Não arredava pé. ------- Não saíram de lá.

11- Classifica, as seguintes palavras, quanto à sua acentuação.
            Cidade – grave         cátedra - exdrúxula            palavras - grave
            só - aguda           Andeiro - grave        honrada - grave

12- Procura o significado destas palavras no dicionário.
 Carqueja - planta muito usada, em especial, como acendalha ou combustível.
 Temores - medos; sustos.
 Clamor - brado; queixa; protesto ou reclamação.

13- Escreve sinónimos de:
            Bem – certo                honrado – honesto
            Morto – falecido        ergueu – levantou

14- Escreve antónimos de:
             bem – mal            honrado – desonesto
             morto – vivo        ergueu - baixou
Nuno Costa, em 29/03/2011

sexta-feira, 25 de março de 2011

Cozinhados do passado desenvolvem o futuro

       
        "Na vida moderna os entendidos declaram que não devemos perder tempo com o passado, afirmando que só o futuro possui interesse (...). Mas não me parece acertado. O futuro depende de tudo quanto se fez no passado.(...)                                                     
         Há grandes obras a ter em consideração:
        Uma, designada por um Livro de Cozinha da Infanta D. Maria,  dos finais do século XV até meados do século XVI. Este livro de receitas gastronómicas, foi agora reeditado pela Imprensa Nacional -Casa da Moeda,

           A Infanta D. Maria, possuía uma grande cultura nas clássicas, filosofia e ciências humanas e sabendo o futuro do marido era um homem mais dado às armas do que à cultura, terá levado livros e manuscritos que lhe havia de ajudar a matar saudades de Portugal, ajudando-a a influenciar o marido na sua tarefa de governação.

           Este curto relato justifica-se para realçar a importância histórica que a Infanta D. Maria de Portugal teve na história da Europa.

           Seria uma obrigação, do actual Turismo cultural, prestar atenção e respeito, aproveitando estas riquezas da cultura lusitana e divulgando um pouco mais os atributos históricos característicos da vida da época.
         Portugal, tem assim um passado, no domínio gastronomico, muito importante e o seu carisma está ser pouco utilizado, nos intercâmbios internacionais, onde a promoção dos alimentos é essencial para as exportações e onde a história e a cultura têm um papel essencial para cativar turistas estrangeiros, aliciados pela sua história."
 in Jornal dos Sabores, Gil Gilardino
Transcrito com alterações por Nuno Costa

A árvore mais antiga de Portugal?

Lamego


Diz-se que a árvore mais antiga de Portugal é um castanheiro que se encontra no largo da Senhora dos Remédios, em Lamego, hoje coberto por uma hera que lhe dá vida.
É, pelo menos, uma das árvores classificadas mais antigas do país, embora da sua vida de 737 anos só reste um tronco cinzento e gordo, copa feita pela trepadeira que acaba por lhe dar um ar de farta e simpática cabeleira.
No final do século XIX e princípio do século XX plantaram-se muitas outras árvores que ainda é hoje dignificam muito a conhecida mata dos Remédios.
Lamego honra-se de ter na sua flora, um dos primeiros exemplares do país a ser classificado como de "intesse público" pela entidade do Estado que em 1940 superintendia na área dos recursos florestais.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Auto-Retrato

Segurando no meu retrato, a minha mãe canta-me canções de embalar.
A boneca dorme
No seu berço d'oiro!
Dorme, dorme
Sonha, sonha - ó!

terça-feira, 22 de março de 2011

Autobiografia

«Tal como o nome o indica, autobiografia é o relato oral ou escrito que alguém faz da sua própria vida. É um género literário em prosa, que consiste na narração da experiência vivencial do indivíduo, levada a cabo por ele próprio.» in Wikipédia

AUTOBIOGRAFIA
Capítulo I

Maria da Conceição

Nasci no lugar dos Palheiros, freguesia da Penajóia, concelho de Lamego, no dia 23 de Outubro de 1930, numa linda quinta-feira, disse a minha mãe.

A Minha infância foi igual à dos meninos do meu tempo, mas muito diferente de hoje.
Eu nunca fui à escola porque tinha de ajudar a minha mãe a acartar areia do rio Douro para cima.
Eu conto:
1.        A vida era difícil, em minha casa faltava muitas vezes comida para toda a minha família e todos tínhamos que trabalhar. Quando não havia trabalho, o meu pai e a minha mãe iam pedir pelas portas. Eu também fui muitas vezes com meu pai pedir, mesmo para muito longe. Lembro-me de ir pedir para a Campeã, vila Real, passávamos o rio Douro junto às Caldas de Moledo, subíamos a serra. Fui pedir até Sanfins do Douro, Pinhão, Alijó. Davam-nos sopa e pão para comer, pedacinhos de azeite que o meu pai ia metendo numa lata que trazia a tiracolo e dinheiro. Deixavam-nos dormir nos palheiros em cima da palha e continuávamos no dia seguinte. Apanhei muito frio e passei muita fome. Para mim era muito triste andar muitos dias fora de casa, sozinha pelos montes com o meu pai. Ficava muito cansada.

Muitas vezes davam-me broa e eu apesar de ter fome, ía esconde-la em minha casa, no colchão, para dar à minha mãe quando chegava à noite cansada e com fome. Algumas vezes ouvia-a a chorar por não ter de comer nem para me dar a mim e aos meus irmãos.

Comecei a ir com ele logo que fiz cinco anos.

2.        Eu nunca fui à escola mas aprendi os números e as letras, porque pedia ajuda aos meninos que vinham da escola. Escrevia no chão com um pau porque eu não tinha aonde escrever. Muitas vezes tinha que os ameaçar:  “ou me ensinais ou rasgo-vos o caderno.”

Não fui para a escola porque tinha que ajudar os meus pais a trabalhar ou a pedir.
Só a minha irmã mais nova foi para a escola.

3.         Desde os meus oito anos que ajudava os meus pais, a pedir ou a trabalhar em casa ou nos vizinhos. Fazia os recados a uma vizinha e esta dava-me comida que eu levava para casa, para os meus irmãos. Apesar de estar com fome dizia-lhe que ia comer mais logo. Lembro-me de andar a transportar areia, em sacos de lona, desde o rio até à Adega da Penajóia, para uma casa do Montenegro. Muito me custava, pois o peso era muito para mim que era uma franzina, com 8 anos e, era muito longe. Muitas vezes quando pousava o saco para descansar, ia ao saco e tirava um punhado, ou dois de areia e deitava para a vinha para ser mais leve. Lembro-me, aos 11 anos, que andava a acartar cabazes de uvas, às costas, desde a Penajóia até ao rio, mais de 5 quilómetros, atravessar o rio de barco, e continuar a subir para a estação das Caldas do Moledo.

4.        Nos meus tempos de criança fazia muitos jogos: jogava a bola, o pião, o arco, o pateiro, o botão, e a macaca, e o caracol e as escondidas. Não havia televisão nem rádio, e por isso, os jogos eram todos na rua. Quando escurecia comíamos e íamos para a cama.

5.        Foi muito difícil a minha vida, em casa dos meus pais, até aos 13 anos, com muito trabalho e muita necessidade.

Os últimos dois ou três anos, na Penajóia, eu trabalhava para uma senhora de lá. Fazia tudo o que ela me mandava: ía para a quinta, arrancar erva, sachar, apanhar fruta e as vides, levava o almoço para outras mulheres que estivessem a trabalhar na quinta. Estendia-se uma toalha no chão e as pessoas sentavam-se no chão, à volta.

Continua.

Sónia trabalhando...

                                 Uma história verdadeira

  
 Quem conta esta história é o nosso amigo Flávio.
   “Eu e o Marcelino somos muito amigos. Temos quase a mesma idade, gostamos das mesmas coisas, jogamos sempre pela mesma equipa, conversamos muito. Na aula, desde o primeiro ano que somos companheiros. Embora, como disse, o Marcelino tenha quase a mesma idade que eu, às vezes, parece muito mais velho. Explicaram-me, em minha casa, que isto tem a sua razão de ser. É que ele é o mais velho de sete irmãos e, como se imagina, numa família tão numerosa, as responsabilidades tem de ser repartidas pelos filhos mais crescidos. Por isso, o Marcelino, uma vez por outra, precisa de pedir dispensa ou porque ficou a tomar conta dos irmãos pequenos ou porque está um doente ou por outros motivos assim. Confessa estas coisas ao professor, com simplicidade, e o professor dá-lhe sempre razão. Bem se importa o Marcelino que riam, zombeteiros e idiotas, os da fila de trás, comandados pelo Janeca.
     Como calculam, o Marcelino não é um menino rico. Os pais vivem com dificuldades e por isso o Marcelino anda, no dizer pedante do Janeca, ´ imensamente mal vestido ´. O blusão está-lhe curto, a camisa tem um ou outro ponto, a disfarçar princípio de rasgão, e as calças já cresceram tudo o que tinham a crescer… Os sapatos não destoam. Grandes e cambados, não impedem, no entanto, o Marcelino de correr. E que bem que corre com eles o Marcelino!
   Pois, no outro dia, o meu amigo apareceu com sapatos novos. Dava-se logo por isso, tanto mais que as calças e o blusão eram os mesmos de sempre. Eu não fiz comentários, mas alguns colegas repararam e, entre eles, o Janeca que, depois de muito o mirar, lhe disse assim, brutalmente:
       - Esses sapatos são meus.
   Houve rebuliço. O Marcelino, corando, explicou que aqueles sapatos tinham sido dados à mãe dele por uma senhora, que morava numa determinada rua. E indicou o nome da rua e o nome da senhora.
  - É a minha mãe! – Exclamou o Janeca, que se chama, de facto, Gilberto. – Bem razão tinha eu em dizer que os sapatos me pertenciam. Estavam-me muito apertados e nunca mais os quis. Ora vejam só quem ficou a ganhar…
    E ria-se, ria-se muito da sua descoberta.
       - Com que então com os meus sapatos, seu felizardo! – Continuava o Gilberto. – Estás cheio de sorte…
    Talvez nunca mais se calasse, se o Marcelino, de dentes cerrados, não tivesse feito o que fez. Perante o espanto de toda a turma reunida à volta, o meu amigo desapertou os sapatos e atirou-os ao Janeca, que ficou com cara de parvo. Entretanto, a campainha começou a tocar para a aula.
    - Porque é que estás descalço? – Perguntou-lhe o professor.
     Ninguém se riu. Ninguém tinha vontade de rir. Então eu, discretamente, passei-lhe os meus sapatos de ginástica.
      No dia seguinte, o Marcelino voltou à escola com os velhos sapatos bambos.”
Já posso responder…
1.      Quem são e desde quando se conhecem os dois amigos desta história?
R: É o Flávio e o Marcelino, já são amigos desde do primeiro ano de escola.
2.      O Marcelino falta, às vezes, à escola. Porque?
R: Tem de tomar conta dos irmãos pequenos.
3.      Qual é a expressão utilizada pelo Janeca para descrever o Marcelino?
R: Imensamente mal vestido.
4.      Quem ofereceu os sapatos ao Marcelino? O que aconteceu quando os levou para a escola?
R: O Janeca disse que os sapatos eram dele, o Marcelino explicou que aqueles sapatos tinham sido dados a mãe dele por uma senhora.
5.      Como reagiu o Marcelino à má atitude do Gilberto?
R: Ele desapertou os sapatos e atirou-os ao Janeca.
6.      Como o ajudou o Flávio?
R: Ele discretamente passou-lhe os seus sapatos de ginástica.
7.      Este texto está escrito em prosa. Tem 12 parágrafos. O segundo parágrafo tem 8 períodos.

8.      A) Uma frase do tipo declamativo:
R: Esses sapatos são meus.
B) Uma frase do tipo exclamativo:
R: Com que então com os meus sapatos, seu felizardo!
C) Uma frase do tipo interrogativo:
R: Porque é que estás descalço?
9. Leio a frase e indico a sua forma.
Os sapatos não destoam.   ----- Forma negativa
10. Classifico os nomes.
Marcelino ---- próprio
Companheiros - ---- coletivo
Calças - ---- comum
Janeca -  ---- próprio
Turma - ----- coletivo
Escolinha - ---- comum
11. Completo como no exemplo

 
Infinitivo Impessoal
Conjugação
Somos
Ser
1ª plural
Vivem
Viver
3ª plural
Riu
Rir
3ª singular
Voltou
Voltar
3ª singular

Trabalho da Sónia Ferreira