quinta-feira, 16 de junho de 2011

AUTOBIOGRAFIA

Tal como o nome o indica, autobiografia é o relato oral ou escrito que alguém faz da sua própria vida. É um género literário em prosa, que consiste na narração da experiência vivencial do indivíduo, levada a cabo por ele próprio.» in Wikipédia

Capítulo VI

Episódios mais marcantes

O que me marcou mais foi uma vez que eu tirei à minha mãe, 2 meios tostões, para eu comprar um pão para comer. A minha mãe bateu-me.

Quando eu era pequenina tinha uma vizinha que dava uma cafeteira de leite para o meu pai que era doente. Eu depois fui lá buscá-lo e tirei lá um tostão que estava em cima da mesa. Quando cheguei a casa dei-o ao meu pai. O meu pai bateu-me tanto que fiquei toda preta e mandou-me ir lá pô-lo. Voltei a colocar o tostão em cima da mesa.

Quando eu era pequenina, eu e a minha irmã ficávamos em casa e o meu pai e a minha mãe iam pedir e só chegavam à noite a casa. Só nessa altura é que nos comíamos o que eles traziam. Algumas vezes deixava-nos pão e quando não tínhamos esperávamos que eles viessem esperando por eles à porta de casa porque tínhamos medo de estarmos em casa sozinhas, no escuro. Por vezes eram os vizinhos que nos conheciam e nos davam broa e sopa para comer.

Na altura, nós não tínhamos electricidade nem gás, eu ajudava a minha mãe a arranjar lenha para cozinhar. Trazíamos à cabeça a lenha que encontrávamos no chão das matas para cozinhar e nos aquecermos.

Uma vez, a senhora para quem eu, às vezes, trabalhava mandou-me vir vender flores para Lamego. Trazia uma cesta cheia de flores. Devia ter cerca de dez anos e vim com a cesta à cabeça com outras pessoas que vinham para a feira. Não consegui vendê-las. Quando regressava, ao chegar ao Relógio de Sol, com medo que ela me ralhasse, deitei-as fora. Quando cheguei a casa a senhora perguntou-me pelo dinheiro e eu disse-lhe que a polícia me tinha multado por ter ido descalça. Nunca mais fui vender porque não tinha calçado.
Menti porque ninguém me comprou e ainda tinha de ir de novo carregada com elas para casa.

Quando fui trabalhar para o hospital, tinha eu 14 anos, eu era interna, comia e dormia lá. Ganhava pouco dinheiro e não dava para nada, quando começámos a ganhar 500 escudos fomos para a quinta fazer um baile, porque não sabíamos o que fazer a tanto dinheiro.
Quem mandava lá eram as freiras que já lá estavam há 100 anos. Estive com elas mais de 30 anos. Quando as mandaram embora ficamos a ser mandados por uma comissão instaladora e deixámos de dormir, comer e viver no hospital. Fiquei sem casa e tive que arranjar um quarto na cidade.


Um dia da minha reforma:

Já não tenho de me levantar cedo para trabalhar, estava livre de todas as tarefas do hospital. Fiquei toda contente.
Levanto-me pelas 8h, arranjo-me, tomo o pequeno-almoço e vou para a APITIL, todo o dia para conversar com as pessoas amigas e jogar as cartas, fazer actividades como, jogar o boccia com os outros utentes de outras Instituições, cantar, dançar, fazer ginástica, teatro, natação, para nos divertimos, etc. Almoço na APITIL e só regresso a casa por volta das 17.30h. Perto das 19.00h vou para a escola. É assim que passo normalmente os meus dias.

          O Domingo de Páscoa de 2011, para mim, foi muito bonito porque foi Jesus Cristo fazer uma visita a minha casa. Fiquei muito contente com uma visita tão importante. O que trazia a cruz era irmão da D. Ana, o que tocava a campainha era o senhor Luís, o que fazia de padre era uma menina que se chamava Tatiana Taveira, de Penude. Gostei muito mas não era como antigamente.

Quando eu era pequenina, a Páscoa era muito diferente do que é hoje. O senhor Padre é que ia fazer a visita às casas das pessoas. Era um compasso com muita gente, conforme ia passando a canalha ia atrás a correr e a brincar. As pessoas recebiam o senhor nas suas casas e iam logo a seguir voltar a recebê-lo em casa dos vizinhos e amigos. Era durante todo o dia e ainda ficava para segunda-feira. Era outra festa.

                   Acompanhei muitas vezes a minha mãe, a “dar o dia” para as quintas dos Montenegros. Trabalhava-se de sol a sol. Às 9 Horas da manhã, o patrão dava-nos meia dúzia de azeitonas, para cada um, para comermos com o pão que levávamos de casa. Depois, ao meio dia dava-nos uma sardinha assada que comíamos com o nosso pão e uma tigela de sopa e água. Despegávamos quando o sol se punha. Quando era tempo de merendas, também nos davam seis azeitonas para comer com o nosso pão, se tivéssemos.
Os maiores patrões não davam mais do que azeitonas, sopa e de vez em quando, uma sardinha. Quando íamos para os proprietários mais pequenos, tratavam melhor os trabalhadores, comia-se melhor. Ao almoço davam sopa e sardinha e pão e água-pé. Ao meio-dia davam o conduto, isto é, batatas guisadas, ou massa ou arroz, e um copo de vinho e água-pé todo o dia. Só íamos para casa à noite comer a nossa casa.

 Agora vou contar como era o Domingo quando eu era pequena. De manhã ia à missa, depois vinha para casa e de tarde ia para catequese. Uma vez na missa fiz uma partida: atei os xailes de umas mulheres às outras, sem elas darem conta. Depois o resto da tarde, era para brincar com os outros meninos da minha idade: jogava ao pião, a bola, o botão, a macaca, o arco, a corda, o pateiro e ao cavalinho alto. Quando era noite íamos para casa cear e dormir.

A noite de consoada da minha infância, era muito diferente do que é hoje. Em minha casa não se fazia o presépio, apesar de sermos católicos, porque não tínhamos as figuras. A ceia era igual ao jantar de hoje, comíamos batatas cozidas com bacalhau e couves, fritas de farinha e rabanadas. No fim, jogávamos o rapa com confeitos. Não havia prendas para ninguém, em minha casa.
No dia da consoada, os trabalhadores despegavam ao meio da tarde.

Escrito na escola nº 1 de Lamego, curso de alfabetização, em 16 Junho de 2011

Sem comentários:

Enviar um comentário